domingo, 1 de junho de 2008

Gerir o tempo... ou a falta dele


Uma das maiores perturbações que ameaça as famílias neste início de século é o stress. Os pais têm profissões cada vez mais exigentes e as crianças parecem ser cada vez mais exigentes, também. Já não basta a rotina casa - escola - casa, com os trabalhos de casa e algum tempo livre.
Agora todos têm actividades extra, lúdicas ou desportivas. E não são apenas os filhos, mas também os pais que trazem trabalhos para casa. E há ainda o jantar, a telenovela, o deitar¿que canseira.
Muitos perguntam onde podem os pais encontrar tempo para conseguir levar as suas profissões para a frente e não deixar os seus filhos para trás. Ou vice-versa.
Não existem regras mágicas ou soluções milagrosas, mas algumas dicas podem, sem dúvida, ajudar a transformar um dia potencialmente caótico em algo mais apetecível e agradável.
É isto o que se passa consigo?
Muitos pais nem se dão conta. Apenas referem que «estão cansados». Quando conversamos e analisamos o que fazem durante apenas um dia, eu também fico cansado. Para alguns, a vida é uma correria, de um lado para o outro, procurando «encaixar» em cada hora, o que caberia naturalmente em duas. Definitivamente os dias deviam ser mais longos. Se sente alguns dos sinais seguintes, é porque algo não está bem na sua gestão do dia a dia:
- está frequentemente cansado
- necessita de um enorme esforço para conseguir cumprir todos os seus objectivos
- está sempre a correr de um local para o outro
- está constantemente em luta contra o tempo
- por vezes toma algumas medidas drásticas para poupar tempo, como evitar uma refeição
- já não se lembra da última vez que teve algum tempo livre
- muito daquilo que faz já não lhe dá gozo nenhum
Se isto se passa consigo, é quase por milagre que está a ler este artigo, ou se alguém o leu e o colocou à sua frente de propósito, talvez esteja na altura certa para parar e pensar um pouco.
Definir prioridades
A vida é feita delas. E é por elas que tem de começar. Ninguém consegue fazer tudo, ao mesmo tempo e igualmente bem feito. Numa frase, há que definir prioridades. Escreva num papel tudo o que faz, e o que os seus filhos fazem, no dia a dia, e coloque um círculo naquilo que é mais importante para si ou para eles. Ou porque é essencial, o porque simplesmente lhes dá gozo. Essas serão as vossas prioridades. Muito do nosso tempo é gasto em coisas que não são verdadeiramente importantes, o que pode causar uma grande dose de frustração.
O que tem que fazer
As prioridades a que não podem fugir são aquelas que estão relacionadas com a nossa sobrevivência. Todos temos que dormir e todos temos que comer, por exemplo. Não são actividades que se possam «saltar», principalmente nas crianças, e têm que fazer parte de todos os dias, quer se goste ou não.
Para além disso, os pais (ou um deles) tem de trabalhar e as crianças devem frequentar a escola. Os trabalhos de casa têm que ser feitos, muitas vezes com uma pequena ajuda ou supervisão. Estas são tarefas de todos os dias e há que arranjar tempo para elas, ou melhor, tudo o resto deve ser programado em função delas.
O que gostaria de fazer
Este é um tipo diferente de prioridades. Não são essenciais mas dão sabor à vida. O pai ou a mãe podem gostar de passear, de uma ida ao ginásio, de um cinema de vez em quando. E as crianças gostam de ler, praticar um desporto ou tocar um determinado instrumento musical pois sonham em ser futebolistas, judocas, pianistas ou poetas. E todos gostam de ter algum tempo livre, sem nada programado, apenas para relaxar, pensar ou simplesmente sonhar.Dizem os especialistas que o tempo livre representa, para as crianças e também para os adultos, uma das melhores oportunidades para crescerem, aprenderem e desenvolverem as qualidades que necessitam para terem sucesso na vida.
Não são actividades fundamentais, mas quase. São estas que devem entrar nos planos em segundo lugar.
Algum tempo «gasto» a organizar os dias
«Gastar» algum tempo a organizar os seus dias ou a semana dos seus filhos, pode ser a atitude mais inteligente a tomar quando as coisas começam a ficar fora de controlo. Com base nas prioridades definidas anteriormente, planeia o que gostaria de fazer.
Primeiro os grandes objectivos, por exemplo, para esse ano lectivo, depois os objectivos do próximo mês, ou para a próxima semana. Por fim, analise como vai dispor do seu tempo em cada dia. Em relação às crianças, planeie também a vida delas, de acordo com a sua idade. Um bebé não tem voto na matéria, mas já deve conversar com o seu filho de seis anos que está no primeiro ano da escola. Defina com ele as prioridades e estabeleça regras e metas a cumprir.
Tudo será mais fácil se ambos estiverem de acordo. Dê espaço para alguma liberdade mas controle os excessos. Com um adolescente nem sempre é fácil, mas não pode desistir. Converse com ele sobre as prioridades que ele próprio estabeleceu e como ele as pensa atingir.
Nesta idade, a liberdade tem de ser muito maior e algumas opções, mesmo que não concorde com elas, mas que não o coloquem em perigos desnecessários, devem ser respeitadas. É fundamental, em todas as idades, que as prioridades estejam bem definidas, sejam realistas e possíveis de atingir, para não criar falsas expectativas e frustrações no futuro.
Planear em avanço
Nada melhor do que começar um dia na noite anterior. Se as manhãs são complicadas, porque não colocar a roupa a usar o dia seguinte em cima de uma cadeira, já pronta a ser vestida? Se alguma refeição deve ser levada para a escola, porque não prepará-la na véspera e deixá-la na cozinha? Se os livros escolares variam em cada dia, porque não colocá-los na mochila antes de ir dormir? Pequenas medidas podem trazer grandes benefícios e aliviar algum stress, principalmente em momentos em que o tempo conta.
A rotina da manhã
Muitos pais queixam-se de que os seus dias começam mal logo ao acordar, pois têm dificuldade em tirar da cama as crianças. Primeira regra: deitar cedo. As crianças necessitam de oito a dez horas de sono por dia e se não as tiverem é inevitável que tenham sono (muito) de manhã.
Segunda regra: acordar cedo o suficiente. Se a rotina da manhã demora uma hora não a queira fazer persistentemente em trinta minutos. Terceira regra: se a criança já está na escola, tem de ser responsável pelo acordar. Deve ter o seu próprio despertador e levantar-se sozinha. Os pais não devem alimentar a preguiça.
A rotina da noite
É muitas vezes tão má como a da manhã. Depois da escola e das actividades extras as crianças chegam a casa e há os banhos, os trabalhos de casa, o jantar, as brincadeiras, lavar os dentes, história na cama e dormir.
Parece simples, mas não é. Tudo leva muito tempo, principalmente as tarefas que os pais querem ver feitas mais rapidamente como o ir para a cama. Estabeleça regras precisas sobre a hora de ir dormir (não deve ser a criança quem determina esta hora), dando sempre tempo para que as crianças possam ouvir ou ler uma história, já na cama antes de adormecer.
Não e esqueça que no meio de toda a azáfama as crianças precisam de brincar consigo quando chega a casa. O ideal é dedicar-lhes alguma atenção em exclusivo durante pelo menos vinte minutos contados desde o momento em que entra em casa e elas vêm ter consigo.
As actividades extra
Quase todas as crianças frequentam actividades extra escolares como forma de complementarem a sua formação intelectual ou física. Seja a natação, o futebol ou o judo, seja o piano, o violino ou a viola, todos gostam de se envolver na prática de algo que complemente a escola.
Pessoalmente aconselho a que todas as crianças, se possível, aprendam bem um desporto e um instrumento musical. O ideal é esta prática ser na própria escola de forma a evitar perder tempo (e dinheiro) com deslocações de um lado para o outro. Se isso não for possível, de entre os locais que oferecem um ensino de qualidade, deve ser escolhido o mais próximo da escola ou de casa.
Aprender a dizer «não»
Em casa, às crianças, no emprego, aprenda a dizer «não». Simplesmente porque não pode aceitar todas as propostas que lhe fazem sem ficar sem tempo para si ou para os seus filhos. É uma palavra pequenina mas difícil de dizer em muitas circunstâncias. Porque queremos agradar a quem nos pede, seja o chefe ou colega de trabalho, seja uma daquelas crianças que temos em casa. Mas há que ter presente as prioridades e não deixar que tudo interfira com elas.
Em caso de dúvidas, peça algum tempo para pensar e responda apenas no dia seguinte ou alguns dias depois. Assim a resposta será mais amadurecida. Este aspecto é especialmente importante quando a pressão no emprego é muita para que leve trabalho para casa. Há que saber distinguir o emprego da vida familiar e, se possível, não traga nada para fazer em casa. Se for inevitável, procure apenas trabalhar em casa nas situações em que não pode estar com os seus filhos, nomeadamente depois de todos se irem deitar.
Aprender a delegar
É importante que pai ou mãe saibam delegar responsabilidades. Em primeiro lugar, um no outro. Já lá vai o tempo da mãe fazer tudo enquanto o pai lia o jornal. Hoje só cai nisto quem quer. É importante que as tarefas sejam partilhadas de forma a que ninguém fique muito sobrecarregado. Por outro lado, algumas tarefas podem (e devem) ser delegadas nos próprios filhos, como fazer a cama, pôr a mesa, ajudar na loiça ou preparar a roupa para o dia seguinte.
As crianças não devem sentir-se «reizinhos» dentro de casa mas parte integrante da família com as suas vantagens mas também os seus deveres. Com esta atitude estamos a formar futuros pais e mães e futuros maridos e mulheres mais preparados e colaborantes.
Saber como obter ajuda
Em alguns casos, é importante obter ajuda de outros, como uma empregada doméstica, por exemplo. Algumas tarefas rotineiras como limpar a casa ou tratar da roupa são muito desgastantes e consomem muito tempo. Se for possível, estas tarefas devem ser deixadas para alguém que é paga para isso, libertando os pais para outras actividades, nomeadamente para terem mais tempo para os seus filhos.
No entanto, é importante não cair no erro de entregar à empregada doméstica todo o trabalho, incluindo a educação da criança. Mesmo que ela ajude, sempre sob supervisão, os pais devem chamar para si a responsabilidade principal da educação dos seus filhos, para além daquilo que é o trabalho da escola.
Não procure a perfeição
Muitas vezes são pequenos pormenores que nos fazem perder muito tempo. Pode ter graça, que de vez em quando e numa ocasião especial algo seja feito com todo o rigor sem nada ser deixado ao acaso. Mas no dia a dia de todos os dias e de todas as semanas, ser perfeccionista só nos leva a perder tempo. Porque o tempo gasto naquele pormenor não é compensado e rouba-nos tempo para outras coisas que consideramos igualmente importantes. Mantenha os seus planos simples pois isso é meio caminho para que possam ser realizados.
Pequenos nadas que fazem a diferença
Quando o tempo escasseia, pequenos nadas podem fazer a diferença. De manhã, a Rita demorava uma eternidade a atar os atacadores, que insistia ter de ser ela a fazer, não admitindo qualquer ajuda. O problema foi resolvido quando os sapatos de atacador foram substituídos por uns de velcro. A Vera demorava um tempão a lavar os dentes pois achava que nunca ficavam suficientemente bem esfregados.
A compra de uma escova eléctrica veio resolver este problema. Muitas mães adoram roupa de bebé complicada com botões atrás de botões, e queixam-se que de manhã não conseguem chegar a tempo ao emprego. Comprar roupa mais simples de vestir deve ser uma prioridade. Com pequenos nadas, use a sua criatividade e ultrapasse muitos obstáculos.
A qualidade e a quantidade
Nunca se esqueça que, se o tempo que passa com os seus filhos é importante, não menos importante é a qualidade desse tempo. De nada serve uma mãe ou um pai super-eficientes que tudo conseguem fazer de uma penada para depois, no tempo restante ficarem com os seus filhos defronte da televisão a ver uma telenovela.
Há que poupar tempo para ter tempo para si e para a sua família, mas é importante que esse tempo seja utilizado em algo que valha a pena. É preferível menos com qualidade do que muito desperdiçado.
A flexibilidade é fundamental
Nunca se esqueça que, por mais que planeie a sua vida e a dos seus filhos, ninguém consegue planear tudo com uma segurança perfeita. Os imprevistos acontecem e fazem parte da vida. Por isso, seja flexível e permita a si mesmo e às crianças alguma flexibilidade. Nunca se esqueça de, nos seus planos, colocar algum tempo extra para simplesmente «não fazer nada».
Esse tempo será utilizado para compensar algum imprevisto ou simplesmente para si ou para desfrutar da sua família. E nunca se esqueça que precisa de tempo para si. Não se culpabilize se utilizou algum tempo para aquela ida ao ginásio, ao cabeleireiro, ao futebol ou à massagem. Ter tempo para si é fundamental para o seu equilíbrio e só estando equilibrados os pais podem equilibrar os seus filhos.

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