sábado, 8 de março de 2008

Estou perdido!


Mais crescidas ou mais pequeninas, é normal que em algum momento da sua infância as crianças se percam.É normal que as crianças, mais crescidas ou mais pequeninas, em algum momento da sua infância se percam. Geralmente, acontece quando alguma coisa lhes chama a atenção e param para a ver melhor enquanto os seus pais seguem o caminho, ou então quando se afastam para ver uma coisa tão maravilhosa que lhes prende a atenção, afastando-as dos seus papás.

Noutros tempos, estas situações teriam sido aceites com uma "certa" calma, pensando (para se auto convencerem) que acontece com todas as crianças, que é de esperar que aconteça, que "em algum lado estará", a olhar distraída para algo que lhe chamou a atenção.

No entanto, actualmente, devido às histórias que ouvimos (muitas delas macabras) a mesma experiência adquire para nós e também para as crianças outro significado.

Que um filho se perca desperta hoje pensamentos, imagens e sentimentos relacionados com o horror, porque surgem ligados a factos como o rapto, o desaparecimento e até morte.

Devido a isso, muitas das condutas que actualmente nos propomos seguir, noutros tempos seriam vistas como impróprias ou inclusivamente como "castradoras" da liberdade dos filhos.

Ainda que não seja agradável conversar desta classe de temas com as crianças, nesta altura das circunstâncias torna-se obrigatório fazê-lo, não para gerar pânico e despertar medo face ao mundo exterior, mas sim para prevenir situações que poderiam resultar dolorosas para todos.


Melhor prevenir...

Actualmente, a insegurança é um dos aspectos em que mais vulneráveis nos sentimos. Gera-nos impotência e medo.

Assusta-nos imaginar como resolveríamos uma situação dessa índole. Para piorar, as crianças também estão imersas nesta nebulosa.

Não podemos deixar de pensar nas restrições que os papás são obrigados a impor aos seus filhos mais crescidos.

As reiteradas recomendações: "Tem cuidado", "Não fales com ninguém", "Não pares se te perguntarem alguma coisa", etc., dão a ideia das precauções que tomamos por medo a que algo terrível lhes (nos) suceda.

A convivência com este fantasma é um facto que não podemos negar. Apesar disso, é possível pensar, seja como for, nas maneiras de evitar expor-se a situações de risco.

Se bem que isto não nos liberte do medo, ajudará a que sintamos que mesmo dentro de um conceito tão confuso algo podemos controlar.


O que conta é a intenção

Há alguns anos, apareceu à venda uma espécie de arnês que se colocava no corpo da criança, no qual estava segura uma correia cuja extremidade era levada pelo adulto.

Ao princípio, a reacção foi "a criança é levada por uma trela como se fosse um cão". E provavelmente essa é uma das primeiras sensações que espontaneamente desperta a imagem.

Mas utilizar este dispositivo na nossa realidade actual poderia gerar também outras sensações e pensamentos. Precisamente, alguns que nunca tivéssemos imaginado.

Embora ninguém goste de estar atado, o que conta aqui é a intenção que leva a tomar tal decisão. Contrariamente a impedir a liberdade de acção da criança, desta maneira estar-se-lhe-ia a permitir um andar livre e ao mesmo tempo cuidadoso.

E no presente contexto poderia constituir uma alternativa saudável, tanto para as crianças como para os adultos.


Depois te explico

Quando chega a certa idade, a criança já está "treinada" no andar: anda sozinha, corre, vai, volta, cai e levanta-se sem ajuda. Inclusivamente, ir de mão dada parece quase inaceitável para um "senhor ou uma senhora" de quatro anos.

Nesta etapa o ideal é recorrer às palavras e combinar com a criança os cuidados que deverá ter quando anda pela rua. Ela não está alheia ao que se passa à sua volta e deve compreender que as indicações são para protegê-la.

Trata-se de estabelecer regras de acção concretas e claras, mediante um vocabulário que outorgue determinação à conduta a seguir.

Por exemplo, palavras como "jamais", "sempre", "nunca", têm um peso muito importante no momento de dar uma directiva.

Terá que dizer-lhe também que, quando está na rua e o adulto que a acompanha lhe dá uma indicação, ela deve obedecer-lhe sem hesitações.

Não é esse o melhor momento para perguntar porquê. Face a situações de surpresa, imprevisíveis, a reacção deve ser instantânea.

Obviamente, depois virão as explicações. Mas o que vamos fazer! Agora temos de agir ao contrário de como o fizemos sempre: primeiro actua-se e depois pergunta-se por quê e para quê.

É a "obediência imediata" da criança que permite ao adulto actuar rapidamente.


O que faço se me perco?

Apesar da atenção permanente dos seus pais, uma criança pode chegar a perder-se, de maneira que é importante prepará-la para o caso de suceder alguma vez.

Certos lugares são mais propícios do que outros para que as crianças se percam. Geralmente, aqueles onde há muita gente e os espaços são de dimensões importantes.

A praia, os centros comerciais e os supermercados são os mais frequentes. Na hora de pensar em prevenção, além de conversar muito com as crianças para que tomem consciência do perigo que poderiam correr se se afastassem da mamã, do papá ou do adulto que as acompanha, também será preciso dar-lhe algumas instruções (ver quadro).

No entanto, estes cuidados só cumprirão o seu objectivo se forem comunicados de antemão para que a criança saiba como agir e, mesmo perdida, todos se estejam mobilizando na mesma direcção para poderem encontrar-se. De nada serviria "não dizer-lhe nada, para não a assustar".


Conter sem condenar

Finalmente, não é demais recordar como devem reagir os papás quando, depois de se ter perdido, a criança se reencontra com eles.

Porque, quem é que ainda não presenciou um episódio agressivo quando uma mamã, num ataque de desespero, ralha e grita descontroladamente ao seu filho por ter-se perdido? A criança não se perde porque quer fazê-lo. "Algo" a distraiu e, sem dar por isso, perdeu de vista os seus pais.

Muita angústia deve ter sentido no momento de se encontrar sozinha, sem saber onde estava a sua mamã, sem entender como é possível que tenha desaparecido da sua vista, e sem ter ideia do que fazer para reencontrar-se com ela.

Não se trata de uma situação para condenar. Pelo contrário: o pequenino deve sentir-se assustado.

É preciso pôr em palavras tudo o que sentimos (porque não chorar, também, se é o que sentimos?), o nosso receio de que lhe tivesse acontecido algum mal (é a verdade!), e fundamentalmente induzi-lo a explicar por um lado o que aconteceu para que se perdesse e, por outro, tudo o que sentiu e imaginou enquanto estava perdido.

Desta forma, é possível conversar juntos acerca de como se poderia ter actuado para evitar a situação e ajudá-lo a afastar os fantasmas que surgiram na sua mente no momento de se sentir desamparado.

Perder um filho é uma situação desesperante. Para a criança não o é menos. A prevenção é o melhor caminho para evitar este tipo de vivências. Educar para a prevenção não é despertar receios mas apenas munir-se de ferramentas para poder enfrentá-los. E o momento de começar é agora.


Instruções para crianças perdidas

Se uma pessoa desconhecida a agarra ou tenta fazê-lo, para proteger o seu corpo e a sua própria vida a criança pode e deve gritar, dar pontapés, morder, arranhar. Embora estas indicações atentem contra as "boas maneiras", a criança deve aprender que quando a sua vida está em perigo tudo o que faça para se salvar é correcto. Se a criança se perde na rua, deve manter-se calma e pedir ajuda. Mas é importante que procure ajuda num estabelecimento. Aí, encontrar-se-á num sítio definido e próximo do lugar onde se perdeu e é provável que os seus papás cheguem mais depressa, procurando-a por ali. Além disso, torna-se mais seguro do que recorrer a uma pessoa que caminha casualmente pela rua.

-Se a criança se perde num centro comercial, a situação é semelhante. No próprio local, poderão acelerar o encontro com os pais através do serviço de segurança do estabelecimento.

-Quando a criança se perde na praia, os lugares mais seguros são os balneários, um restaurante próximo ou o mastro da bandeira que indica o estado do mar, uma vez que está localizado nas proximidades do nadador-salvador, pessoa de confiança a quem também pode recorrer.


Se suspeita que o seu filho está perdido:

Chame os amigos e colegas do colégio para averiguar quando o viram pela última vez e que informações podem fornecer.
Chame todos os familiares para contar-lhes o que está a acontecer e averiguar se têm alguma informação.
Faça uma participação na esquadra de polícia mais próxima:
Se se negarem a aceitá-la com a desculpa de que é preciso esperar 24 ou 48 horas, diga que sabe que o seu filho está em "situação de risco" e insista que a aceitem.
Solicite uma cópia da participação.
Pergunte na esquadra que Tribunal de Menores lhe corresponde, o nome do juiz ou do secretário, e o domicílio da dependência.
Vá ao tribunal e, embora a causa ainda não tenha chegado da polícia, solicite realizar a exposição do caso denunciado. Dê todos os detalhes e leve uma fotografia da criança o mais actual possível.
Em todos os casos recomenda-se dirigir-se o mais depressa possível a uma esquadra da polícia.

Medidas de prevenção

Bebés e crianças pequenas
Não permita que nenhum estranho agarre no seu bebé na rua. Não importa se elogia o bebé e pede autorização para acariciá-lo. Dizer "não" é sempre o melhor para afastar o perigo.
Quando passeia o bebé no carrinho, coloque-o de maneira que o possa ver permanentemente de frente. Não é aconselhável circular com o bebé a olhar para a frente porque facilita a função dos raptores.
Num jardim, não se distraia a falar com outras pessoas enquanto o bebé brinca. Esteja sempre atenta e não o perca de vista.
Não borde o nome do pequenito na sua roupa, já que pessoas estranhas podem chamá-lo pelo seu nome e fazer-lhe crer que são conhecidas.
Face a uma situação confusa, o melhor é agarrar no bebé e afastar-se do lugar imediatamente. Se não for possível, a saída mais aconselhável é gritar para exigir a presença da polícia.
É muito importante denunciar todos os factos que acontecem. Não importa se o roubo não se concretizou. Alertar a polícia é necessário para apanhar os delinquentes e evitar outras situações similares.

Crianças e adolescentes

Obtenha referências sobre as pessoas que cuidam do seu filho enquanto trabalha ou enquanto está ausente. É importante que tanto o seu filho como você sejam cuidadosos e estejam atentos, mas que não tenham medo. Ensine ao seu filho que ninguém deverá aproximar-se dele ou tocá-lo de uma maneira que o faça sentir-se incomodado. E se isto acontece, deve contar-lho imediatamente.
Ensine ao seu filho que nunca entre para nenhum automóvel nem vá com nenhuma pessoa a menos que você lhe tenha dado autorização.
Combine uma palavra-chave secreta e fácil com o seu filho. No caso de alguém se aproximar dele para lhe dizer que você não pode ir buscá-lo e que deve ir com ele, deveria conhecer a palavra-chave para que a criança tenha a certeza de que você o autorizou. Se não a sabe, o seu filho deve afastar-se o mais depressa possível e avisar a professora ou um segurança.
Explique-lhe que não deixe que lhe tirem fotografias sem autorização dos seus pais.
Tenha uma comunicação efectiva com o seu filho. É importante que a criança se sinta à vontade para falar sobre questões sensíveis e contar as experiências que tenha vivido. Permita-lhe falar livremente sobre o que ela gosta ou do que não gosta, sobre os seus amigos e sentimentos.
Saiba onde o seu filho se encontra em todo o momento. Conheça os seus amigos e as suas actividades quotidianas.
Esteja atenta às alterações de comportamento do seu filho. Constituem um sinal de que devem sentar-se e conversar acerca daquilo que os motivou.

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