domingo, 18 de outubro de 2009

Pediatras só recomendam a chupeta quando o bebé já mama bem.


No último ano, farmácias e parafarmácias venderam 370 mil chuchas. Grande parte dos pediatras só aconselha quando o bebé já mama bem e sempre com moderação. Mas há vantagens, como evitar chuchar no dedo.




Pode não ser uma solução milagrosa, mas a chucha acalma birras e tem salvo muitos pais de noites de insónia. Só no último ano saíram das farmácias e parafarmácias mais de 370 mil chuchas (ver infografia). E se a maioria não consegue passar sem elas, o seu uso entre os pediatras já não é tão consensual.

Grande parte dos médicos só as aconselha quando o bebé já mama bem, e sempre com moderação na hora de dormir. Entre os mais cépticos está Mário Cordeiro. A chupeta deve ser usada como "último recurso, em períodos em que o bebé tem necessidade de chuchar e apenas quando vai dormir", diz o especialista.

O clínico alerta para o risco de funcionar como "rolha" para abafar o barulho do choro. "Se o bebé chora, é porque lhe falta alguma coisa. É errado tentar adiar ou colmatar a resolução do problema através da chupeta. Só servirá para fazer dele uma pessoa frustrada e derrotista", defende.

Uma boa dose de bom senso da parte dos pais, "sem cederem demasiado a facilitismos", deve ser o suficiente: "As chupetas deveriam ter em conta o interesse e o bem-estar dos bebés e não as conveniências dos pais", defende.

E há vantagens no uso da chupeta, garantem os pediatras. Ajuda a criar autonomia relativamente ao sono e no desenvolvimento, além de evitar o chuchar do dedo.

O chefe de Serviço de Pediatria e responsável pela Unidade de Neonatologia do Centro Hospitalar de Cascais, Luís Pinheiro - que tem um site na Internet onde responde às dúvidas dos pais - vai logo advertindo que prefere que o bebé "mame na chupeta do que no dedo" que é um vício difícil de abandonar. Já a chucha só se transforma em vício "quando os pais a deixam usar a torto e a direito". Defende por isso que a partir dos 18 meses o seu uso deve restringir-se à hora de dormir.

Também alguns estudos têm demonstrado que o uso de chupeta pode reduzir a incidência de síndroma da morte súbita do lactente.

Uma maior ocorrência de otites e o facto de ser um veículo de bactérias são algumas das desvantagens da chucha, dizem os pediatras. Mas a mais importante é sem dúvida a de por interferir com a amamentação nos primeiros tempos de vida.

Os especialistas contactados pelo DN são quase unânimes em defender que a chucha não deve ser usada à nascença. Mas já são menos consensuais quanto à altura ideal para o fazer.

"Os pais devem proibir a chupeta enquanto não está estabelecida uma boa amamentação, pois o bebé que pega bem na chucha pode ter mais dificuldade em o fazer com a mama", garante a directora do Serviço de Neonatologia do Hospital de S. João.

O ideal, defende Hercília Guimarães, é utiliza-la a partir do segundo mês de vida. Mas apenas para acalmar "o bebé que é muito exigente, que está sempre a chorar e procura mamar em tudo desde o dedo ao cobertor". Muito importante é que a criança "nunca seja obrigada a usar chupeta".

Mário Cordeiro é peremptório: "Será boa política evitá-la o mais possível quando o bebé está a ser amamentado". O problema, explica, é que o recém-nascido "não precisa de abrir tanto a boca para mamar na chupeta e, se utilizar a mesma técnica com o peito da mãe, vai extrair pouco leite, ficar com fome e causar stress na progenitora".

Rosa Gouveia, da direcção da Secção de desenvolvimento da Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP), refere que "só deve ser oferecida ao recém-nascido depois da amamentação estar bem estabelecida, de modo a não o confundir", mas sem, contudo, apontar períodos de adaptação. "Não havendo esta aprendizagem, a maior parte dos bebés irá chuchar no dedo", alerta.

Para o evitar, o melhor é mesmo recorrer à chucha, aconselha. Além de acalmar na altura de dormir, defende Rosa Gouveia, "a sucção é uma actividade reflexa desencadeada pelo contacto de um objecto com os lábios e a cavidade bucal, e é essencial para a alimentação" da criança. Pelo contrário, a Alta Comissária da Saúde, Maria do Céu Machado, defende que não existe qualquer incompatibilidade entre o uso da chucha e a amamentação. Mesmo assim, a pediatra aconselha a usá-la "a partir da segunda semana para a mãe se habituar a acalmar o recém-nascido com a voz e não com a chupeta". Mas, avisa, "sem exageros". E com o tempo, só para adormecer.

Dos problemas que podem surgir com a chucha, dependendo do seu formato, é a deformação dentária. Segundo Mário Cordeiro, existem no mercado chupetas "ortodônticas, que são achatadas e interferem menos com a dentição, tendo também a vantagem de simular melhor o mamilo materno".




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